quinta-feira, 4 de março de 2010

Um "causo"


Quinta feira de uma tarde de março em Montréal, 14:30. Mesa da cozinha, com minhas ancas doídas de tanto estudar. Eu aqui, muito compenetrada na minha semaine de relâche, e a campainha assustadora aqui de casa toca (quem já nos visitou conhece a "monstra").

Antes de pensar que pode ser alguém sempre penso que pode ser um assassino ávido por uma pobre moça, um louco sequelado-drogado-pedinte, uma criança infame, uma velha arteira, uma descompensação da campainha que, juro, nunca vi mais histérica. Nunca jamais o marido que esqueceu a chave em casa ou a visita surpresa de um amigo gracioso.
O coração dispara. Respira, pensa, você está no Canada, nada pode pertubar a sua paz assim impunemente.

Então estico o corpo e corajosa após o segundo grito da monstra levanto e sigo em direção à varanda para ver quem é, já que ainda não acostumei com a idéia de que aqui você pode abrir a porta sem antes dar aquela olhadinha (que aliás me foi muito últil quando algumas adolescentes louras missionárias resolveram passar aqui três tardes seguidas).

Vejo um senhor distinto entrando no caminhão blindado da empresa de entrega. Em 3 segundos me dei conta que era simplesmente o meu necessário Tera que comprei pela internet. Gritei "uôu, ei, mésier, úlálá, psit..." e nada. Ele entrou de volta com um negocinho na mão e, chocada com a pressa do mêsier que não esperou nem 30 segundos pra eu chegar na porta, liguei pra empresa toda esbaforida:

eu: Oi Moço, há alguns minutos a campainha da minha casa tocou e não tive tempo nem de olhar quem era, quando vi já era, o entregador pulou de volta no caminhão com minha encomenda...

moço: Hum... me passa o número da compra.

eu: 1099ZWX

moço: Aqui no cadastro diz que eles deixaram na sua porta.

eu: Ah, moço, impossível! Ele não entrou aqui no prédio.

moço: É o que está escrito no sistema.

eu: Haha, só se ele deixou na rua... [deboche]

moço: A madame tem certeza que ele não deixou na sua porta?

eu: Claro, Moço, absoluta. Só se ele fosse doido de deixar na rua... Afinal é um eletrônico... Bom, mas espera um pouco que vou olhar.

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eu (envergonhada): Ih, hihihi, você tinha razão, tava na porta da rua. Desolée.

moço: De nada, querida, bom dia.


Ok, situação corriqueira, banal mesmo, digna de nem virar um "causo".
Mas como eles são loucos de deixar a caixa com a encomenda da clienta na rua?
E não é que a patota aqui não mexe mesmo?

Adorei!

6 comentários:

Júlia disse...

é curioso como a gente vive tão refém da violência em nossas cidades que só percebe que "não é natural" se preocupar e defender tanto na nossa querida terra adotada.
eu lembro quando descobri que não tinha detector de metais no banco e tinha caixa eletrônico aberto no meio da rua.choque cultural maravilhoso
beeijo!

Unknown disse...

Gabriela, primeiro eu fui imaginando..como se eu estivesse aí do seu lado! rsrs Tb ri muito, mas depois fiquei preocupada com suas encomendas..rsrs É..eu não iria gostar MMEEESMOOO de saber que minhas coisas estão no meio da rua! (pas de tout!) hehehe
Talvez este meu pensamento seja aqui pelo Brasil...não sei...rsrs É só vivenciando por aí p saber!

Cinemusique disse...

oi Vanessa, to curiosa em saber qual Vanessa é vc! é minha ex-cunha? é que nao consegui acessar seu perfil pra te responder, e como tenho na minha vida umas 127 vanessas, nao sei pra quem respondo!
=P

Eu e vocês disse...

Desculpa minha curiosidade e ignorância (é nessas horas que a gente percebe que está ficando velho): o que é um Tera?
Abraço,
Rato

Cinemusique disse...

Oi Rato!!!

Chamei meu HD externo de Tera porque fiquei impressionada com o fato dele ter 1 terabyte de capacidade de armazenamento...
Então Tera é só um apelido carinhoso pro HD que chegou...rsrsrsr...

beijos e saudade!

Vanessa Queiroz disse...

É sua ex-cunha sim! rsrs
Parabéns pelo blog! Está lindo, divertido e super inteligente!