terça-feira, 23 de março de 2010

Ménage com ou sem filhos

Quem foi atraído pelo título do post pode ir se acalmando porque o papo aqui é pra gente direita, famílias sérias, muito sérias. A novidade é que a prefeitura de Montréal anunciou ontem que, até o fim de 2010, vai desenvolver uma série de medidas para combater o êxodo da população.

Pra quem não sabe, Montréal acaba sendo o ponto de chegada e o de partida de boa parte dos imigrantes, que optam primeiro por se instalar em uma grande cidade e depois acabam se remanejando pra cidades vizinhas ou até outras províncias do país. Isso por fatores diversos, o principal deles, claro, emprego.

Pra não perder essa fatia, alguns benefícios estão sendo desenvolvidos por aqui, que vão desde vantagens e descontos pra famílias que optam por transporte público até compra da casa própria.

Pra facilitar a compra do primeira casa, uma das medidas é que casais com filhos (ménage avec enfant, viu!?) vão ter o reembolso de 100% da taxa de Bienvenue, que você é obrigado a pagar quando adquire um imóvel por aqui. Casais sem filhos (ménage sans enfant, ah bom!) terão direito ao reembolso de 40% do Bienvenue.


Outro incetivo é que o programa de acesso à propriedade vai ganhar um gás, ou seja, a soma de 10 000$ que era oferecida na compra da primeira casa será aumentada para 12 500$, pra quem vai comprar uma casa de 3 quartos ou mais.


Programas desse tipo são sempre bem-vindos, mas cuidado para não se empolgar. Vários fatores determinam nossa permanência num lugar: casa, entorno, trabalho, transporte, amigos, vida cultural, parques, etc. O negócio é ter calma e pesquisar bastante, compre se puder pagar, pra não virar aquele quiprocó que foi a crise do mercado imobiliário americano.

Boa sorte!

Mais informações aqui.

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Fonte: jornal 24h

quarta-feira, 17 de março de 2010

Estudar ou Trabalhar?

Recebi cartas de alguns dos nossos queridos telespectadores com dúvidas sobre cursos, universidades e escolhas a fazer com relação ao estudo aqui no Québec. As dúvidas vão desde cursos do Cégep, técnico e profissional, até o 3º ciclo, ou seja, doutorado.

Vamos começar, meu amigo, minha amiga retirante, com a seguinte premissa: você precisa saber onde quer chegar. Como dizia o poeta: "comece com o objetivo em mente" (ok, não é poeta, é um autor de livro de auto-ajuda que uma amiga vive citando e, de tanto citar, virou poesia).

As experiências e desdobramentos por aqui são os mais diversos. Vai do empenho, do conhecimento da língua, de estar no lugar certo na hora certa. Até aí nada de muita novidade.

Minha equipe de produção foi às ruas e perguntou ao povo "qual foi o caminho percorrido até chegar no trabalho desejado?" (sim, porque tem a opção do trabalho não desejado, que serve pra pagar as contas, treinar seu francês, fazer amigos, ou até mesmo inimigos. Tudo muito proveitoso se você consegue ver o lado positivo das coisas. E outra coisa né gente: o trabalho dignifica o homem!).

E atenção, o nosso vox populi indica que muitos passaram a ter mais respostas ao envio de currículos depois que fizeram um curso aqui. ÓÓÓÓ!!! Clap, clap, clap!



Mesmo quem tinha experiência, boa formação e classe sentiu uma leve mudança quando incluiu no currículo um cursinho québecois.

Isso não é regra, claro, mas pode ser um bom começo pra sua vida no lado norte e uma boa forma de integração na língua, nos termos técnicos de sua profissão e até mesmo com os québécois.

E sem contar que, muitas vezes, do curso você já pode engatar direto no trabalho... Tenho um amigo querido que foi um aluno tão dedicado e empenhado que acabou sendo indicado pelo próprio professor do curso para a empresa que ele tanto queria, é menina! (Não estou fofocando, Ok? Só comentando com você.).

Há também a opção de estudar e trabalhar, principalmente pra quem está estudando em tempo parcial e quer levantar mais uma graninha e/ou experiência. Fato é que estudar não faz mal à ninguém e se você optou por esse caminho mergulhe fundo nele, quer dizer, estude. O resultado vai vir naturalmente. Quem viver verá!

Ok, mas vocês vão me dizer, e com razão, que uma coisa que embola o meio de campo pra quem está no processo de mudança e pesquisa é que quando se está no Brasil há tanta coisa pra resolver, cartas e formulários pra enviar, trabalhos pra terminar, que a gente passa longe dessa pesquisa de cursos daqui.

Bom, se algum telespectador se encontra na mesma situação que ficou a amiga aqui, vai aparecer aí no canto inferior do seu vídeo os sites com as informações básicas que vão te ajudar a iniciar a sua pesquisa. (Solta aí Cezinha).

Então, boa escolha e até o próximo programa!
Tchau!

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Cursos de Cégeps (formação profissional ou técnica): http://inforoutefpt.org/

Atenção aos tipos de cursos! O AEC é mais curto e serve como um complemento de alguma ferramenta que está faltando pra você, por exemplo, você é designer e falta um software essencial pra que você possa se colocar no mercado, aí você faz o AEC.
O DEC é mais longo, quase um equivalente de uma graduação e em geral é escolhido pelos que estão mudando de área profissional, mas não é regra, pois você pode fazer um DEC da mesma área de formação no Brasil. Já viu, né? Regras por aqui não existem, mas sim objetivos!)

Universidades em francês: UdeM, UQaM

Universidades em inglês: McGill, Concordia

Prêt et Bourse do governo (com ele você paga a faculdade e recebe uma bolsa de estudos enquanto estiver estudando. Depois de formado você só precisa reembolsar o empréstimo, ou seja, o prêt).

sábado, 6 de março de 2010

Bairros - Sugestão

Há 6 meses estamos em Montréal e tenho certeza que ainda vamos ter muitas surpresas em relação à cidade. Lembro que quando estávamos para nos mudar não tínhamos a menor referência de bairros pra morar. Confiamos no bom gosto de nossos amigos Vanessa e Muryllo e começamos à pesquisar ainda no Brasil apartamentos pelos arredores do bairro de Ahuntsic (mais precisamente pelos arredores do metrô Henri-Bourrassa que a gente não é bobo nem nada). Enfim, saiu tudo como planejamos e cá estamos ora pois pois.

Não sei qual é o bairro melhor ou pior da cidade, mais barato ou mais caro, só sei que aqui tá bão demais! Ahuntsic tem tudo que a gente precisa: meia quadra pro lado tem o metrô, duas pra frente tem biblioteca, a casa de cultura (com quintas de jazz!), parque, restaurante, SAQ... mais duas adiante e tem também o banco, a farmácia, cafés, lojinhas, floristas, igreja (falo do bazar minha gente, que é ótimo, mas quem quiser pra rezar ela também é ótima). Algumas quadras no sentido contrário tem amiguinhos da rua (Van e Mu, Paula e Boto, Mimi e Germain), supermercado e mais farmácia. Três quadras depois do metrô tem até um... rio! Que serve muito bem pra nos lembrar que estamos numa grande ilha. Enfim, tudo à 15 minutos do centro da cidade de metrô.

Bem, mas até aí nada além do mínimo que um bairro deve oferecer pra ser reconhecido como tal: serviços. Agora vem o tchan da coisa: o charme do bairro não está em ter esse comércio disponível, mas justamente no fato de ser um comércio tão peculiar, tão próprio, tão fofinho. As lojas conhecidas, os grandes magazines, estes não estão por aqui não. O que tem são lojinhas familiares, uma coisa meio Visconde de Mauá, meio cidade do interior, meio cenário de novela, sabe?

Resumindo, Ahuntsic, com esse nome esquisito e onomatopéico mesmo, é um condomínio de 23 km quadrados onde 125 mil moradores vivem como numa casinha de sapê. Quem tá em dúvida do que será que será pode começar a vida por aqui que não vai se arrepender. O clima de cidade do interior reina e a vida parece pura e nos eixos. Ahuntisic é meu Canadá, meu Canadazinho.

Numa manhã de sábado, Ahuntsic amanheceu assim:









Vou lançar uma campanha: "Fale do seu Bairro", estilo João Buracão. Pode falar bem ou mal, desde que fale a verdade! Ajuda muito quem está pra vir e não faz idéia de onde se instalar. E serve pra quem já tá aqui ficar mais por dentro de Montréal também!. Então, meu amigo, minha amiga, fale do seu bairro!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Um "causo"


Quinta feira de uma tarde de março em Montréal, 14:30. Mesa da cozinha, com minhas ancas doídas de tanto estudar. Eu aqui, muito compenetrada na minha semaine de relâche, e a campainha assustadora aqui de casa toca (quem já nos visitou conhece a "monstra").

Antes de pensar que pode ser alguém sempre penso que pode ser um assassino ávido por uma pobre moça, um louco sequelado-drogado-pedinte, uma criança infame, uma velha arteira, uma descompensação da campainha que, juro, nunca vi mais histérica. Nunca jamais o marido que esqueceu a chave em casa ou a visita surpresa de um amigo gracioso.
O coração dispara. Respira, pensa, você está no Canada, nada pode pertubar a sua paz assim impunemente.

Então estico o corpo e corajosa após o segundo grito da monstra levanto e sigo em direção à varanda para ver quem é, já que ainda não acostumei com a idéia de que aqui você pode abrir a porta sem antes dar aquela olhadinha (que aliás me foi muito últil quando algumas adolescentes louras missionárias resolveram passar aqui três tardes seguidas).

Vejo um senhor distinto entrando no caminhão blindado da empresa de entrega. Em 3 segundos me dei conta que era simplesmente o meu necessário Tera que comprei pela internet. Gritei "uôu, ei, mésier, úlálá, psit..." e nada. Ele entrou de volta com um negocinho na mão e, chocada com a pressa do mêsier que não esperou nem 30 segundos pra eu chegar na porta, liguei pra empresa toda esbaforida:

eu: Oi Moço, há alguns minutos a campainha da minha casa tocou e não tive tempo nem de olhar quem era, quando vi já era, o entregador pulou de volta no caminhão com minha encomenda...

moço: Hum... me passa o número da compra.

eu: 1099ZWX

moço: Aqui no cadastro diz que eles deixaram na sua porta.

eu: Ah, moço, impossível! Ele não entrou aqui no prédio.

moço: É o que está escrito no sistema.

eu: Haha, só se ele deixou na rua... [deboche]

moço: A madame tem certeza que ele não deixou na sua porta?

eu: Claro, Moço, absoluta. Só se ele fosse doido de deixar na rua... Afinal é um eletrônico... Bom, mas espera um pouco que vou olhar.

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eu (envergonhada): Ih, hihihi, você tinha razão, tava na porta da rua. Desolée.

moço: De nada, querida, bom dia.


Ok, situação corriqueira, banal mesmo, digna de nem virar um "causo".
Mas como eles são loucos de deixar a caixa com a encomenda da clienta na rua?
E não é que a patota aqui não mexe mesmo?

Adorei!

terça-feira, 2 de março de 2010

Brie Soleil no meu inverno

Sexta-feira passada fui com Amélie e Hector na Maison de l'architecture du Québec. Havia um tempo que eu queria ir lá dar uma sondada. Gosto de arquitetar esses passeios arquitetônicos, lembro do quanto aprendi nos papos com Toty e Batone. Nina, Le Corbusier, Niemeyer... e tantos outros que minha memória mal arquitetada sempre assopra por aí.
Quando minha cunhada Ana Rita quis fazer uma casa construída por ela mesma, Batone não pensou duas vezes e fez uma super propaganda do Toty, nosso amigo arquiteto, que ela conhece melhor que eu, e depois de um tempo tava lá o projeto: moderno, arrojado, prático, simples, grandioso, sacado, clean, inspirado e... caro!
Mas só de ter aqueles croquis nas mãos já dava pra gente uma sensação maravilhosa de "nooooossa, que casa!", era como morar numa galeria de arte! Mas por enquanto nosso croquis tá mais pra croquete meRmo...
(A casa da Ana acabou sendo comprada pronta mas as idéias do Toty ninguém compra por aí não.)
A Maison de l'architecture du Québec é um lugar pequeno, gracioso e simples, "que não tem banheiro"(observação "sagacitosa" do Hector), e abriga exposições e pequenos espetáculos. O que rolou nesses últimos tempos foi uma homenagem ao nosso arquiteto Oscar Niemeyer.
O arquiteto brasileiro Eduardo Aquino, professor na Universidade de Manitoba, e que já trabalhou com Niemeyer, desenvolveu (com sua esposa também canadense e arquiteta) o projeto "Sejour au Copan". Pra realizar sua pesquisa se mudaram para o Copan e lá ficaram 1 ano. Resultado: ensaios fotográficos que propõem uma nova forma de representação do edifício Copan, quer dizer, do ponto de vista de quem mora no Copan, de dentro pra fora.
Parte das fotos estão lá, na Maison. Dentro dessa série Niemeyer, houve também a leitura dos escritos de Niemeyer pelo ator Rémy Girard (Invasões Bárbaras). E foi isso que me levou pra lá.
Foi uma noite graciosa, além de ouvir a "voz" de Niemeyer também houve projeções das suas principais obras (MAC saudade), "manhã de carnaval" e neve de Montréal.
Pra quê mais se a gente já tem isso tudo? Foi um brie soleil no meu inverno!